Entre Travessias

Motivo

Conto essas histórias porque as ouvi e, algumas delas, vivi. Soube delas aqui e ali, pela vida afora, e sempre me deixaram com a impressão de que eram fortes depoimentos que mereciam ser passados adiante. Em mim, reforçaram a fé e a certeza de que a morte, assim como o nascimento, é um momento de reencontro, continuidade, beleza e aprendizado.

Tema

São histórias verdadeiras — assim ouvidas e recontadas — de pessoas que, no momento extremo da vida, deixaram um ensinamento, uma mensagem, um adeus sincero diante da partida. Todas elas trazem uma antevisão do outro lado do véu da vida, um lugar que, me garantem, é acolhedor e pleno de paz.

Há um dito popular que afirma que ninguém nunca voltou para contar como é lá. Mas não é o que soube e compartilho aqui. Há inúmeros relatos de pessoas que encontraram maneiras de se comunicar com aqueles que ficaram, reforçando a certeza do reencontro. Seja por um sonho, uma manifestação mediúnica, uma mensagem inesperada ou até o voo sutil de um beija-flor, esses sinais são um testemunho do vínculo que transcende a matéria.

Se esses relatos ressoarão em algum coração trazendo a mesma certeza que carrego, não sei. Mas conto essas histórias para que não sejam esquecidas. Seria uma pena, pois são lindos testemunhos sobre o momento preciso em que a porta se abre para outra dimensão, e a alma daquele que parte antevê algo e, por amor e generosidade, informa: é bom, é certo, está tudo bem.

Base Filosófica

Antes mesmo de Cristo andar pela terra, Platão já ensinava que a alma é o elo entre os dois mundos. Para ele, a morte diz respeito apenas à parte material e instável que é o corpo físico. A alma, por outro lado, não se dissolve, mas segue um caminho de aperfeiçoamento ao longo de ciclos reencarnatórios.

Se a alma carrega memórias de outras dimensões e vidas passadas, mas o corpo físico insiste em esquecê-las ou negá-las, é possível que, no momento da morte, a alma, prestes a se libertar da prisão terrena, traga notícias do paraíso. O que é essa comunicação senão um ensinamento puro e divino para aqueles que, presos à materialidade, ainda duvidam da força que os anima?

O Primeiro Relato

E por acreditar nisso, começo pela história mais linda que já ouvi sobre o amor entre mãe e filho — um convite a caminhar ao paraíso — que me foi contada quando eu ainda era bebê, pela minha triste avó Elsa.